Crédito: Daniele Pesaresi
Ela é uma das doenças mais conhecidas dos brasileiros e mesmo em estado de controle assusta os órgãos de saúde e principalmente os donos de cães. A Leishmaniose Visceral Canina é grave e fatal para os cachorros, já que eles são o maior reservatório doméstico da enfermidade.
A doença é repassada de cão para cão a partir do mosquito-palha Lutzomyia longipalpis, chamado de inseto vetor. Infectado, o animal pode apresentar sintomas como emagrecimento, queda de pelo, feridas na pele que não cicatrizam, lesões oculares, fraqueza geral e apatia, febres irregulares, crescimento exagerado das unhas, aumento do fígado e baço, já que é ali que a doença se desenvolve.
No Brasil, de acordo com dados de 2008, do Ministério da Saúde, os Estados mais atingidos foram Maranhão, com 591 casos, e Ceará, com 587. No Estado de São Paulo, a doença começa a assustar, mesmo que não tenha nenhuma ocorrência na capital. “Antes restrita às regiões Norte e Nordeste, está crescendo no Estado de São Paulo, com registro de ocorrência em municípios próximos à Araçatuba, Bauru, Marília, Presidente Prudente e Cotia”, revelou Vanessa Carla Paiva, veterinária da clínica Unidade Veterinária Jardim Paulista, de São Paulo.
A maior preocupação dos proprietários de cães é que, como a doença não tem cura, a Organização Mundial da Saúde (OMS) defende a teoria que todo o animal infectado tem que ser sacrificado. “A recomendação da OMS é que os cães soropositivos sejam eliminados. Esta recomendação visa primariamente a saúde pública, uma vez que o cão é o principal reservatório para a doença no homem”, disse Renato de Lima Santos, veterinário e professor adjunto da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais.
Porém, esse ato gera muita polêmica. De um lado, entidades protetoras de animais defendem que, se bem tratados, os cães podem superar as maiores dificuldades e viverem com a doença. Já o Ministério da Saúde, protegido pela Lei n° 6.437, de 20 de agosto de 1977, estabelece como infração sanitária, dentre outras, “impedir e dificultar a aplicação das medidas sanitárias relativas às doenças transmissíveis e ao sacrifício de animais domésticos considerados perigosos pelas autoridades sanitárias” e “opor-se à exigência de provas imunológicas”. Sendo assim, sempre que necessário, autoridades do Estado podem, sem autorização do proprietário, sacrificar o animal infectado pela Leishmaniose Visceral Canina.
Com brigas para lá e discussões para cá, o melhor mesmo é evitar o contágio de seu animal com a doença. Porém, esse é um dos tópicos mais difíceis. Para Santos, “uma forma de controle importante é o uso de coleira impregnada com inseticida, que diminui significativamente o risco de exposição à picada do mosquito e consequentemente diminui o risco de infecção. Existem coleiras disponíveis comercialmente, sendo importante que os proprietários sigam corretamente as recomendações de uso indicadas pelo fabricante. Além disso, é importante que se faça o monitoramento periódico dos cães através de exame sorológico”.
As coleiras citadas pelo veterinário apontam uma grande efetividade em estudos realizados no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. As coleiras impregnadas com deltametrina associada às demais medidas de controle e dentre outros estudos realizados fora do País, mostraram uma eficácia de proteção em 96% dos cães, contra as picadas do inseto vetor da leishmaniose e esta atividade manteve-se durante 34 semanas.
Outras formas de evitar a doença seriam vacinas, mas elas ainda não estão com 100% de eficácia. Para o Ministério da Saúde, as vacinas ainda não podem ser usadas na Saúde Pública, pois testes ainda estão sendo feitos para avaliar toda a efetividade dos medicamentos.
O controle da população canina também é outra medida adotada para o controle da leishmaniose. Sendo assim, durante a doação de animais, em áreas com transmissão da doença na forma humana ou canina, é recomendado que seja realizado previamente o exame sorológico canino antes de proceder a doação de cães. Em locais onde há muitos cachorros, o Ministério da Saúde exige o uso de telas em canis individuais ou coletivos. “Os canis de residências e, principalmente, os canis de pet shop, clínicas veterinárias, abrigo de animais, hospitais veterinários e os que estão sob a administração pública devem obrigatoriamente utilizar telas do tipo malha fina, com objetivo de evitar a entrada de flebotomíneos e consequentemente a redução do contato com os cães”, revelou a dra. Ana Nilce Maia, Coordenadora de Vigilância das Doenças Transmitidas por Vetores e Antropozoonoses da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
Mesmo com tantos problemas, a maior preocupação dos órgãos públicos de saúde é que a leishmaniose visceral é uma doença não passível de eliminação e de difícil controle com as ferramentas disponíveis. Para o Ministério da Saúde, os principais objetivos do programa de vigilância e controle da LV não são os de “acabar com a doença” e sim: reduzir a morbi-mortalidade e a letalidade dos casos humanos, realizar o diagnóstico e tratamento precoce desses casos e diminuir os riscos de transmissão através do controle da população de reservatórios domésticos (eutanásia de cães soro-reagentes), controle do vetor transmissor (manejo ambiental e controle químico) e atividades de educação em saúde.
E quanto à cura de um animal doente, as previsões são desanimadoras: “infelizmente os tratamentos disponíveis não resultam em cura no caso dos cães, uma vez que o tratamento não é suficiente para a eliminação completa do parasita (chamada cura parasitológica). O tratamento do cão, que não é recomendado pelo Ministério da Saúde, somente resulta na diminuição da intensidade dos sinais clínicos em alguns cães”, revelou o professor Renato Lima dos Santos.
E você, o que faria caso seu cachorro fosse diagnosticado com leishmaniose? Opine.
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