Crédito: Enciclopédia Britânica
No dia 3 de novembro de 1957, a cadela Laika deixou sua marca registrada no tempo após ser o primeiro ser vivo a sair da atmosfera do planeta, abrindo caminho para a exploração humana do espaço.
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Laika era uma cadela vira-lata que foi capturada nas ruas de Moscou. Os cientistas soviéticos acreditavam que um animal de rua era preferível, pois já havia sobrevivido às condições adversas de temperatura e fome, indicando ter boa resistência física.
Os pesquisadores justificavam o uso do animal pois naquela época não havia nenhum dado sobre como as condições de gravidade zero afetariam um organismo. Muitos postulavam que seria impossível viver nessas condições.
Treinamento
O animal participou de um treinamento intensivo com outras cadelas. Para se adaptar às condições fechadas da espaçonave, elas eram colocadas em espaços progressivamente menores por períodos de 20 dias. O confinamento extremo fazia com que os animais praticamente parassem de defecar e urinar e se tornassem inquietos. Os cães eram colocados em centrífugas que simulavam a aceleração do foguete e em máquinas com barulho semelhantes às encontradas no Sputnik 2. Eles eram também alimentados apenas por um gel nutritivo.
Somente em 2002, o mundo descobriu que a cadela, na verdade, havia morrido poucas horas após o lançamento, provavelmente de estresse e superaquecimento. A versão oficial lançada pelo partido comunista, que vigorou por 45 anos, foi de que o animal sobrevivera por quatro dias até morrer por um defeito na bateria do módulo espacial Sputnik 2.
Outro dado que só foi liberado posteriormente, foi de que, diferente dos outros 13 cães que os soviéticos enviaram ao espaço, os cientistas nunca pretenderam que Laika voltasse com vida para a terra. O líder russo Nikita Khrushchev exigiu que a equipe lançasse o Sputnik 2 no dia do aniversário dos 40 anos da revolução bolchevique, o que fez com que os cientistas apressassem o cronograma.
Antes do lançamento, um dos cientistas levou Laika para casa para brincar com seus filhos. Em um livro que relata a história da corrida espacial russa, o Dr. Vladimir Yazdovsky escreveu, “Eu queria fazer alguma coisa boa para ela. Ela tinha tão pouco tempo de vida.”
Direitos dos animais
Frente à loucura da Guerra Fria, as questões éticas envolvidas não foram abordadas por muitos anos. A imprensa norte-americana se mostrou mais interessada nas implicações políticas do lançamento, e as condições de Laika mal eram mencionadas.
Na União Soviética, não houve nenhuma discussão devido à censura do regime soviético. Foi apenas em 1998, com a queda do regime, que Oleg Gazenko, um dos cientistas responsáveis por enviar Laika, se mostrou arrependido: “quanto mais o tempo passa, mais eu me arrependo. Nós não devíamos ter feito isso. Nós não aprendemos o bastante com a missão para justificar o uso do animal.”
Os restos mortais de Laika ficaram em órbita por 162 dias, circulando a Terra 2.570 vezes antes de queimar na atmosfera em 14 de abril de 1958. Para alguém que observasse o céu naquele dia, ela seria confundida com uma pequena estrela cadente atravessando o céu.
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