Crédito: CC One From RM
A companhia dos animais é muito mais do que um mero capricho do ser humano. O crescimento das chamadas “pet terapias” está mostrando que a companhia dos bichos pode fazer um bem real, tanto para a saúde das pessoas, quanto para as relações entre os próprios seres humanos.
Antes de tudo, é preciso fazer uma distinção entre as atividades e as terapias assistidas por animais. O primeiro caso é realizado por associações de voluntários que ajudam idosos, crianças ou pacientes. São iniciativas das quais praticamente qualquer um pode participar com o seu bicho, desde que ele seja comportado, é claro.
Catalisadores sociais
Um estudo britânico feito no ano de 2000 confirmou o efeito de aproximação que os cães têm sobre as pessoas. Os pesquisadores passeavam com um animal e com outras coisas por uma praça (como um carrinho de bebê) e concluíram que a presença do cão minimiza inibições sociais, e é ótima para “quebrar o gelo” em conversas com estranhos.
Logo, os animais funcionam como verdadeiros catalisadores para as relações sociais. “Um idoso, por exemplo, ao interagir com um cão, acaba se lembrando dos animais que teve e o bicho se torna um assunto para ele conversar com as pessoas”, disse a psicóloga Sabine Althausen Zanotello, autora de uma dissertação de mestrado na USP sobre as atividades e terapias assistidas por animais.
“Crianças autistas, que possuem um quadro de retraimento e uma baixa interação com o mundo, acabam se abrindo mais ao brincar com o animal, que acaba se tornando uma ponte de acesso entre a criança e o mundo real”, conta.
Essa melhora do bem-estar é muito importante também de um ponto de vista clínico. Um fato constatado muitas vezes é a diminuição do uso de medicamentos de controle de dor, já que o riso libera substâncias como a endorfina, que controlam o sofrimento.
Doutores animais
E não é só no bem-estar que os bichos auxiliam o ser humano. Na década de 60, enquanto boa parte dos tratamentos utilizados para os doentes mentais era a lobotomia (terapia de choque), a psiquiatra Nise da Silveira dava telas, tinta e pincel aos pacientes e começou a usar os pets no tratamento. Em terapias, os bichos são utilizados também para fazer o paciente pensar sobre si mesmo. “Eles funcionam como co-terapeutas, ou seja, a presença deles ajuda o paciente a se soltar e também a considerar a sua condição,” disse Sabine. Nise da Silveira expõe algumas dessas idéias no seu livro de 1998, “Gatos, A Emoção de Lidar”, da editora Leo Christiano.
Cavalos são muito utilizados com deficientes físicos pois possibilitam o deslocamento tridimensional dos pacientes, simulando o ato de caminhar, o que estimula as conexões cerebrais ligadas à movimentação, assim como a postura. Os animais também são utilizados na fisioterapia em países como Estados Unidos e Canadá, iniciativa que começa a ganhar espaço no Brasil. Ao invés do paciente precisar efetuar exercícios repetitivos, ele pode fazer o mesmo movimento que necessita brincando de atirar a bola para um cão, por exemplo. Animais menores, como tartarugas e até escargots são usados por pedagogos, pois podem ser facilmente manuseados pelas crianças, tornando o ensino uma atividade lúdica e divertida.
Todas essas experiências com animais provam que quando o ser humano trata os bichos com o respeito merecido, eles também sabem retribuir com benefícios reais à vida das pessoas.
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