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Consumo de carne de cachorro pode ser prejudicial

13_consumo_de_carne_01Cães esperam pelo abate em um supermercado em Seul, na Coréia do Sul
Crédito: anja_johnson

A notícia da apreensão de 60 kg de carne de cachorro em um abatedouro ilegal em Suzano, na Grande São Paulo, chocou pela crueldade com que os animais foram mortos – supostamente à machadadas. Como no Brasil não há o costume de consumir animais domésticos, não faltaram manifestações de repúdio sobre o caso, muito embora, em algumas culturas orientais a prática é considerada comum. Sendo assim, surge a preocupação com os consumidores da carne que foi comercializada antes da apreensão dos criminosos, já que ela era repassada para diversos restaurantes coreanos, inclusive na capital paulista.

No momento, a polícia trabalha para identificar esses estabelecimentos que compravam o produto, enquanto caberá ao grupo chefiado pela Profª. Dra. Simone de Carvalho Balain, especialista em Microbiologia Aplicada a Segurança Alimentar, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da USP, estudar e identificar as cerca de 17 amostras da carne que serão encaminhadas na próxima segunda-feira pela prefeitura.

A especialista destaca que apesar do apelo emocional do fato, é preciso tratá-lo como qualquer outro de vigilância sanitária, ou seja, aplicar os mesmos procedimentos utilizados para certificar os demais tipos de animais de açougue. Saber a procedência da carne, como o animal foi criado e a forma que foi abatido são questões que devem ser respondidas independentemente dele ser de origem canina, bovina ou suína. “Antes mesmo de identificarmos se a carne de cão faz mal à saúde, a primeira pergunta que precisamos fazer é qual foi o modo que esse animal foi criado”.

Simone explica ainda que mesmo no caso de uma criação de acordo com as normas federais, o que não ocorreu no abatedouro de Suzano, a legislação prevê uma série de outras medidas que fiscalizam o controle de qualidade das carnes de corte no Brasil. Ela comenta também que como os cães não se enquadram na lista dos animais liberados para consumo pela legislação, sua carne não deve ser consumida. “Se não há lei que fiscalize a criação desses animais, não se torna seguro consumir a carne deles”.

13_consumo_de_carne_02Cliente escolhe pedaços de carne canina no mercado de Seul
Crédito: anja_johnson

A lei que a médica veterinária se refere é o decreto n° 30.691, de 29 de março de 1952, que aprova o regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. O documento destaca que a fiscalização deve abranger exames “ante e post-morte dos animais de açougue”, para garantir uma carne segura para consumo, bem como acompanhar todas as fases de recebimento, elaboração, manipulação, preparo, condicionamento, conservação, transporte e depósito de todos os produtos e subprodutos de origem animal”. A lei chama de “animais de açougue” todos aqueles que passaram por inspeção de um médico veterinário.

Ainda a respeito da legislação vigente, a lei estadual n° 11.977, de 25 de agosto de 2005, vai além do decreto n° 30.691 e proíbe o consumo de “animais domésticos, aqueles de convívio do ser humano, dele dependentes, e que não repelem o jugo humano”. Fica também proibida “a prática de sacrifício de cães e gatos em todos os Municípios do Estado, por métodos cruéis, consubstanciados em utilização de câmaras de descompressão, câmaras de gás, eletrochoque e qualquer outro procedimento que provoque dor, estresse ou sofrimento”.

Saúde pública

Segundo a especialista, a falta de fiscalização na carne para consumo humano, independentemente de ser de cachorro, pode causar sérios riscos à saúde, principalmente para quem manipula o produto. “Os maiores prejudicados nem sempre são os consumidores finais, mas sim, aqueles que manipulam a carne, ou as pessoas que abatem o animal doente”, explica. No caso de quem consome uma carne sem fiscalização, como a de cachorro encontrada recentemente, por exemplo, a veterinária revela que apesar de pouco comum, existe a possibilidade do contágio de doenças graves. “Acompanhei um estudo muito interessante de um paciente que contraiu raiva após ingerir carne bovina crua. Isso pode ter sido causado por diversos fatores, mas o risco do contágio ter sido causado por uma carne de má qualidade é grande”.

A preocupação com a produção segura de animais para o consumo levou a especialista, recentemente, a um congresso sobre saúde pública veterinária. No evento ocorrido no Mato Grosso do Sul, ela e sua equipe apresentaram um projeto inédito que identifica as espécies animais para o controle de fraudes em alimentos. A técnica constitui em identificar o DNA de suínos, bovinos e cães, mas a ideia é ampliar o campo da pesquisa para a identificação também de carne de aves.

A nova técnica, conhecida entre os acadêmicos como PCR (Reação em Cadeia de Polimerase) será utilizada nas 17 amostras de carne canina que serão encaminhadas pela prefeitura de São Paulo. A previsão é que o resultado do estudo seja concluído em aproximadamente um mês.

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