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100% vira-lata

O SRD Cacau é o guardião da casa da pedagoga Sonia Pereira - Arquivo PessoalO SRD Cacau é o guardião da casa da pedagoga Sonia Pereira
Crédito: Arquivo Pessoal

Em pleno século 21, época em que tanto se discute a igualdade racial, o preconceito ainda reina soberano entre os cães e gatos abandonados. Talvez, por não obedecerem a um padrão de beleza, ou simplesmente, por pura desinformação, os “vira-latas” que já viveram nas ruas da capital paulista sofrem o descaso de parte da população. Felizmente, esse quadro vem mudando de uns tempos para cá. Prova disso é o resultado de uma pesquisa do Datafolha, que revelou que os bichinhos conquistaram os corações de muitos moradores da cidade de São Paulo.

De acordo com o levantamento, os sem raça definida são os cachorros mais comuns na casa das famílias paulistanas. Nesse sentido, pode-se dizer que ONGs e grupos que incentivam a adoção de pets abandonados tiveram um papel fundamental para essa mudança positiva. O Programa de Proteção e Bem-Estar de Cães e Gatos (PROBEM) da Prefeitura, por exemplo, acaba de completar um ano de atividades, e já contribuiu para a adoção direta de mais de 1,2 mil animais.

Quem é dono de um vira-lata admite que o temperamento dócil e lealdade do bichinho são as suas principais vantagens. Segundo a dra. Carla Alice Berl, do Hospital Veterinário Pet Care, apesar de serem cães sem uma linhagem pré-estabelecida, não dá para prever o seu comportamento, mas, em sua maioria, são dóceis e têm características de defensores do lar.

Esse é o caso de Cacau, um vira-lata de 5 anos, adotado por Sonia Pereira. A pedagoga acolheu o Cau, seu apelido carinhoso, após sua filha ter ganhado o cãozinho de um amigo. “Ele é forte, tem porte elegante e é super carinhoso com os de casa”. Segundo ela, no entanto, se alguém encostar no portão, “ele vira uma fera.”

A dr. Carla explica ainda que o comportamento dos SRDs muda de um cão para o outro, mas aqueles que passaram pela rua costumam ser mais espertos que os criados em casas ou apartamentos. “Quando estão abandonados nas ruas acontece uma seleção natural, na qual somente os Adoção mais fortes, inteligentes e saudáveis sobrevivem.”

Apesar da resistência, os vira-latas também necessitam de cuidados com a saúde. Sonia sabe bem disso e está sempre atenta com o bem-estar de Cacau e também de sua Poodle, de 10 anos. “Ele está com as vacinas e vermifugação em dia e ganha banhos quinzenais. Pode faltar tudo em casa menos a comida dos cães.”

Abandono x posse responsável

Para acabar com as temidas carrocinhas, desde 2008 está vigente no Estado de São Paulo uma lei que proíbe o sacrifício de animais de rua. A eutanásia só pode ser feita em casos extremos, de doenças incuráveis ou infectocontagiosas. Nesse sentido, cabe ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) recolher os animais e disponibilizá-los para a adoção. Segundo o órgão, são doados, em média, 50 bichos por mês, número ainda baixo.

Além do incentivo à posse responsável, o CCZ também faz campanhas de castração gratuita para evitar a superpopulação animal, e recentemente, tem estudado formas de microchipar os bichinhos. Segundo a gerente do centro, Ana Furlan, a ideia da Prefeitura é começar a realizar a microchipagem dos animais para poder responsabilizar seus donos, em caso de abandono.

Apesar dos milhares de cães e gatos que ainda moram nas ruas, a verdade é que os vira-latas, que antes eram renegados, estão se tornando a alegria das famílias paulistanas. “Cacau é um vira-lata com muito orgulho. Super querido, de fácil trato, sem frescura, mas bem cuidado. Ele é um membro da família e nos dá segurança”, finaliza a dona amorosa.

A dra. Carla também acrescenta que ter um vira-lata é “tudo de bom”, em referência à campanha da Pedigree, que já colaborou para a adoção de mais de 12 mil cães em todo o Brasil. “Eles são diferentes, carentes, amam seus donos ao extremo e sempre os defendem”, finaliza a veterinária.

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