No dia a dia, é comum nos depararmos com proprietários queixando-se de que seu animal não aceita mais um determinado alimento. E aí vem a frase: “Meu animal enjoou da ração!”.
Quando cães e gatos saudáveis rejeitam um alimento com frequência, na verdade está ocorrendo o que chamamos tecnicamente de “apetite caprichoso”. Cada vez mais comum, sua ocorrência está intimamente ligada ao padrão de comportamento do proprietário, que transfere para o animal de estimação sua necessidade de variar o cardápio e seus hábitos alimentares. Este padrão de comportamento, associado ao fato de que particularmente os cães gostam de novidades, leva em pouco tempo o animal a se tornar cada vez mais exigente e seletivo.
O fato é que os donos de cães e gatos querem ver seus pets se alimentando constantemente com a voracidade típica provocada pela novidade. E isto não é possível e nem desejável,
pois levaria rapidamente a excessos alimentares e obesidade.
Após a introdução de um novo alimento ocorre o chamado “efeito novidade”. Ele pode durar de uma a duas semanas, período no qual o animal come mais do que necessita e normalmente com mais empolgação.
Após este tempo, no entanto, o fator novidade passa e o consumo diminui a um patamar normal. Nesta hora o proprietário interpreta isto como o pet tendo enjoado do alimento. Isto causa frustração, o proprietário se preocupa e busca alter nativas: oferece petiscos, mistura alimentação caseira ou úmida, troca bruscamente de produto, reforçando assim o comportamento de seletividade e alimentando o ciclo.
Mas então o que fazer?
Fazer o animal com apetite caprichoso se alimentar voluntariamente não é uma tarefa simples. Mais difícil ainda é conseguir que esse animal mantenha uma nutrição apropriada. Conhecer e entender os fatores que interferem na aceitação do alimento é o primeiro passo para contornar a situação.
Oferecer um alimento altamente palatável está entre as atitudes mais determinantes para a melhora do quadro. E isto pode ser encontrado em alimentos de alta qualidade e alto nível de aproveitamento, formulados com proteínas, gorduras e demais nutrientes provenientes de fontes nobres.
É necessário também entender que vários aspectos influenciam a ingestão da dieta, como o odor, textura, tamanho, temperatura e sabor do alimento. Mas não é só isso. A experiência alimentar do animal e o ambiente físico e social em que ele se encontra também são importantes fatores de influência para que ele aceite ou não o alimento oferecido.
Assim, outras medidas podem ser tomadas para que o animal sinta-se mais confortável e estimulado a
ingerir o alimento voluntariamente. A primeira delas é relacionada aos cuidados com o ambiente em que está o animal. Sabe-se claramente que gatos são mais receptivos a novos alimentos quando estes são oferecidos no ambiente familiar em que estão habituados. Também se deve atentar ao local em que é exposto o alimento. Este não pode ser próximo à área de defecação e micção do animal por prejudicar o estímulo à aceitação.
Em relação aos horários, no caso dos cães, manter uma rotina de horários fixos para alimentação com a retirada da vasilha em 30 minutos independente de o animal ter ingerido ou não, costuma ajudar a discipliná-lo a aceitar o alimento mais facilmente. Esta é uma medida importante para evitar que o alimento fique exposto na vasilha por muito tempo, prevenindo, assim, a perda de aroma e de crocância, além de evitar que as gorduras se deteriorem, o que diminuiria o sabor a aceitação do alimento.
Em conjunto a estes cuidados, manter 24 horas de luz acessa deve ser evitado e usar ciclos de claro e escuro deve ser considerado, já que alguns animais, principalmente gatos, têm diferentes padrões de consumo de acordo com o ciclo luminoso.
Além do ambiente, a pessoa que irá fornecer o alimento ao animal também influencia diretamente
na aceitação ou não do alimento. Acostumar o animal a receber o alimento por diferentes pessoas é interessante para prevenir que fique sem comer pela ausência de quem o alimenta habitualmente.
Em suma, é importante que o animal com apetite caprichoso sinta-se o mais confortável e estimulado possível para aceitar o alimento. Saber como lidar com o manejo alimentar destes animais mais seletivos é fundamental para garantir que eles recebam uma nutrição completa e balanceada, tão importante para sua saúde, longevidade e qualidade de vida.