Pensar no fim é algo sempre muito doloroso – que atire o primeiro osso quem tem um animal em casa e não deixou o cinema aos prantos após assistir ao filme Marley e Eu (o longa-metragem, baseado no livro de mesmo título, narra o drama de um escritor que precisou sacrificar seu golden retriever trapalhão após anos de uma história compartilhada). No entanto, a eutanásia é uma solução que tem se tornado comum para acabar com o sofrimento de pets com doenças ou ferimentos graves, sem chances de cura ou melhora.
Graças ao avanço da medicina veterinária, os animais de estimação tiveram a expectativa de vida aumentada, em comparação com as últimas décadas. Porém, a idade avançada também faz com que eles tenham doenças muitas vezes relacionadas à velhice, como insuficiência renal ou problemas cardíacos. O apego dos donos, é claro, faz com que desejem cuidar dos amigos até o último dia. No entanto, às vezes, as dores e incômodos são tão intensos, que prolonga-los passa a não fazer sentido.
“A decisão é muito difícil de ser tomada, tanto pelo clínico, como pelos responsáveis, mas indico sempre que não há mais qualidade de vida para o animal e até mesmo para os donos, pois algumas doenças debilitam não apenas o pet, mas todos que cuidam dele”, ressalta a veterinária Daniela Zanette Depiné, da clínica Galescão, de São Paulo. E o médico?
“Nós também nos sentimos impotentes. O pensamento que vem à tona é: ‘como pode estudarmos tanto e não conseguirmos curar um paciente?’. A tristeza também nos acomete, ainda mais quando se trata de pacientes antigos. É muito difícil indicar e realizar esse procedimento”,conta.
O que é, afinal, a eutanásia?
A palavra vem do grego eu, que significa “bom”, e thanatos, que é “morte”. Logo, é a morte boa, serena, sem sofrimento. Para que isso aconteça, os veterinários aplicam uma forte anestesia e depois uma dose de cloreto de potássio, que leva a uma parada cardiorrespiratória. No total, o procedimento leva cerca de 30 minutos e custa, em média, R$ 350. Os especialistas garantem que o bichinho não sente dor.
“Sempre peço que um familiar permaneça junto do animal durante todo o procedimento, pois acredito que, para o animal, isto seja muito importante. Ele se sente amparado por alguém em quem confia”, diz Daniela. Também costumamos conversar antes com os donos sobre o destino do corpo, que pode ser cremado ou enterrado, com todo o cuidado e respeito.
A eutanásia deve ser indicada e realizada por um profissional. Além disso, deve acontecer de acordo com o código de ética do Conselho Federal de Medicina Veterinária. No documento, há uma resolução especial que trata do assunto. Lá, constam as condições em que o procedimento deve ocorrer: em um ambiente limpo, tranquilo, sem sofrimento e por um profissional capacitado.
Decisão difícil
Chaw, uma cadela da raça Chow Chow, tinha 12 anos quando foi acometida por problemas renais. Os órgãos pararam de funcionar. “Levamos a dois veterinários e ambos disseram que os rins não voltariam”, lembra a dona, Julia Toschi. De acordo com os profissionais, havia um tratamento para prolongar a vida de Chaw. Ela, é claro, topou. “Fizemos por um tempo, porém, ela não comia – o fato de os rins estarem fora de atividade causa enjoos e, consequentemente, perda de apetite. A urina era transparente, pois não era filtrada”, conta.
Depois de alguns meses nessa situação, Chaw sentia dor e desconforto e, de acordo com os veterinários, seria assim até seu último dia. Não havia cura. “Estávamos sofrendo muito e ela também. Então, achamos melhor tomar essa decisão, incentivada pela clínica. Seria um ato de amor, porque acabaria com o padecimento dela. Eu não poderia ser egoísta em querer ela ao meu lado com vida, sendo que estava sofrendo e quase morrendo. Foi muito difícil, mas achamos melhor interromper tanta dor”, diz a proprietária da Chow Chow.
“Fiquei com ela até segundos antes da primeira injeção. Eu não tinha estrutura emocional. Já estava em prantos, soluçando. Despedi-me, pedi desculpas e disse que seria para o bem dela. Só de lembrar, começo a chorar”, emociona-se Julia. “Hoje, sinto que foi a melhor decisão pelo fato de não ter cura e de termos tentado até o fim. Fizemos o melhor por ela. Nunca me arrependi. Sei que ela ficou em paz”, completa.
Ouvir do veterinário que seu melhor amigo está em uma situação difícil e que o sacrifício deve ser considerado não é nem um pouco fácil. Porém, é preciso pensar no conforto do bichinho. Às vezes, o sofrimento e a dor não têm fim e tornam a espera pela morte natural uma agonia. Além disso, manter o pet com doenças terminais em casa desgasta todos os cuidadores, emocional, financeira e até fisicamente, principalmente quando trata-se de animais de grande porte.
Seja qual for a sua situação é sempre bom pesquisar bastante, consultar mais de um médico veterinário e avaliar com cuidado todas as possibilidades. Se informar é fundamental para dar ao seu bichinho um final mais digno.