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Segunda-feira, para muitos, é considerado o dia mundial da dieta. O problema é que lá para o meio da semana, poucos resistem a uma boa feijoada. E com a chegada do inverno, o que não faltam são promessas não cumpridas para uma alimentação mais balanceada. O que poucos sabem, no entanto, é que os maus hábitos alimentares dos seres humanos também têm influenciado a dieta de seus animais de estimação.
De acordo com o último levantamento da Associação Médica Veterinária Americana, 40% dos cães dos Estados Unidos carregam quilos extras. No Brasil, a estimativa é de que 30% dos cães e 25% dos gatos sejam obesos. Os motivos para o problema são diversos. Segundo a médica veterinária Carla Alice Berl, diretora do Hospital Pet Care, localizado na zona Sul de São Paulo, os petiscos dados aos cães e gatos em reuniões sociais, como churrascos, por exemplo, são um dos principais motivos para a obesidade. “Pedaços de pizza, carne, biscoitos à base de farinha, entre outros, são muito calóricos, além de aumentarem o risco de alergia alimentar, diarreia, pancreatite, entre outros problemas mais graves.”
A especialista explica que é considerado obeso o pet que apresenta um peso 15% superior ao normal indicado para a raça e que, apesar do quadro de sobrepeso ser visível, é melhor que o dono leve o animal a um veterinário para que um exame de sangue seja realizado. “Isso é necessário para medirmos as taxas de triglicérides e colesterol, e assim elaborarmos uma dieta mais adequada às suas necessidades.” A dra. Carla explica também que caso não seja tratada, a doença contribui a médio e longo prazo para o surgimento de problemas ortopédicos, devido à sobrecarga na coluna e pernas do animal, além de hipertensão, diabetes, doenças respiratórias, cardíacas, hepáticas, entre outras.
Resultados da comilança Jodie, uma Dachshund de 6 anos, já sentiu na pele as consequências mais graves do sobrepeso. A cadelinha nunca gostou muito de atividades físicas e, com as guloseimas dadas diariamente por um dos empregados de sua dona, acabou diabética e obesa. Segundo a proprietária, a empresária Adriana Regina Queiroz, a pequena já sofreu três hérnias de disco, problema comum à raça, e que não estava diretamente ligada à obesidade do animal. Além disso, hoje, precisou mudar sua rotina alimentar e atividades físicas para mandar embora os quilos extras.
“A Jodie sempre foi preguiçosa. É uma luta fazê-la caminhar duas vezes ao dia. Quando fi ca cansada, logo para no meio da rua e começa a babar, comportamento que ela não tem quando vamos ao shopping, por exemplo. Depois da castração ela fi cou mais preguiçosa ainda.” A empresária conta também que sua cadelinha chegou a pesar 11 kg, quatro a mais que o recomendado para o seu tamanho, mas que depois da dieta controlada com a ração própria para cães diabéticos, ela está com 7 kg e mantém o peso fazendo duas sessões semanais de 20 minutos em uma esteira aquática especial para cães.
Problema semelhante passou a dona de casa Aparecida Gandolpho com sua Fox Paulistinha. Princesa chegou a pesar espantosos 29 kg devido à alimentação excessiva dada por sua dona e a falta de exercícios. O resultado da comilança é grave: a cadela está diabética, cega e surda, problemas agravados pela idade avançada. A pequena tem 13 anos. Atualmente, o animal passa por uma dieta rígida, à base de ração especial para cães diabéticos, e pesa 11 kg. Segundo Aparecida, ela viu o sinal vermelho acender depois dos comentários dos amigos que diziam que sua cadela parecia uma “foquinha”, e decidiu levá-la ao veterinário. “Quando íamos passear, ela ficava cansada fácil, bebia muita água, e consequentemente, começou a urinar demais.”
Sobrepeso nos felinos
Mas não são apenas os cães que sofrem com os quilos extras. Os gatos, que tendem a viver dentro de casa, sem muita atividade física, também são vítimas da obesidade. A médica veterinária Fernanda Fragata, diretora do Hospital Veterinário Sena Madureira, localizado na zona Sul de São Paulo, explica que, sobretudo, bichos castrados, apresentam uma tendência ao sobrepeso, já que eles fi cam menos agitados. “Apesar de animais castrados terem seu ritmo desacelerado, uma dieta equilibrada desde jovens e horários regrados para a alimentação ajudam a manter o peso.”
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A dra. Carla também orienta os donos de gatos a incentivarem seus animais a se exercitarem, deixando brinquedinhos espalhados pela casa. Outra dica é deixar os potes de ração e água em lugares diferentes, para que o animal possa se movimentar mais. Os petiscos e pedaços de carne também devem estar fora de cogitação, e é preciso ficar de olho no teor de gorduras e proteínas das rações. “A proteína em excesso sobrecarrega os rins, possibilitando um quadro de insufi ciência renal no futuro, explica a dra. Fernanda.
As duas profissionais também são unânimes em afirmar que a obesidade é ainda mais séria nos felinos, principalmente porque eles não podem perder peso rapidamente como os cães. O processo de emagrecimento deles precisa ser lento, em média, de 6 a 7 meses. A dra. Carla orienta ainda que as porções de ração devem ser dividas em diversas partes ao longo do dia, mas que a quantidade não deve ser reduzida bruscamente. Em troca, em vez de um alimento comum, o gato obeso passa a ingerir ração light.
Prevenindo e identificando a obesidade
Para identificar se o animal está acima do peso, o Centro Nestlé Purina de Pesquisa e Desenvolvimento elaborou um quadro explicativo, permitindo ao próprio dono fazer o teste. Caso as costelas do cão possam ser visíveis e palpáveis e tenham apenas uma cobertura mínima de gordura, é provável que ele esteja no seu peso ideal. O abdômen retraído quando visto lateralmente e a cintura bem estabelecida quando o pet é visto de cima, também são indicações de peso saudável.
Já quando as costelas são apalpadas com dificuldade, com pesada cobertura de gordura, é melhor ficar alerta. A ausência de cintura abdominal e presença de gordura sobre o tórax, espinha, ao redor do pescoço e base da cauda são indicativos de sobrepeso ou até mesmo obesidade. Lembrando que o mesmo teste vale para os gatos.
E para prevenir a obesidade, as especialistas recomendam dar apenas ração aos pets e dividir o alimento em várias porções ao dia, para manter o organismo sempre em atividade. Duas boas caminhadas diariamente e passar tempo brincando com os animais também são maneiras de mantê-los em forma. E para animais “pidões”, que adoram rodear a mesa enquanto os donos estão se alimentando, a dra. Carla adverte: “o ideal é não acostumá-los a fi car no mesmo local onde acontece o almoço e jantar, e caso o dono não resista em agradar o pet, dar pedaços de courinho de boi é uma boa alternativa”.
A culpa é da genética
Mas nem sempre a alimentação em excesso e a falta de atividades físicas são os motivos para o ganho de peso. Causas hereditárias e problemas metabólicos gerados pelo mau funcionamento da glândula tireoide, também podem influenciar. Segundo as especialistas ouvidas, as raças Schnauzer, Labrador, Cocker Spaniel, Beagle e Golden Retriever têm tendência à obesidade.
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No caso de Petita, Emily e Gorda, cadelas da raça Pinscher, todas foram obesas em algum período da vida, como explica a estudante de veterinária Mairicy Alexandrino, dona dos animais. “Tive experiência com a obesidade nas minhas três fêmeas: avó, mãe e neta. Uma delas se tornou obesa após a castração (Emily), a avó (Petita) engordou quando entrou na maturidade, enquanto a neta (Gorda) já nasceu gordinha.”
A proprietária explica que por meses tentou dar ração terapêutica para o emagrecimento de Gorda, mas não houve resposta. “Evitei castrá-la para não ter mais sobrepeso, mas não foi suficiente. Por ela também ter lesão na coluna, não podia fazer muita atividade física”, lembra. Mas depois de intenso acompanhamento de peso e dietas, Mairicy fi nalmente comemora o emagrecimento de suas cadelas. Hoje, Petita tem 5,4 kg, Emily, 5,5 kg, mas está diabética, e Gorda, 6 kg. Elas pesavam respectivamente 6,5kg, 8kg e 9kg. A dra. Carla explica que, em casos como o das três cadelas, aumentar a carga de exercícios ou alterar a ração por conta própria não é indicado. Por necessitarem de diagnóstico mais cuidadoso, animais com disfunções hormonais ou com problemas hereditários devem fazer tratamento com medicamentos e acompanhamento constante com um veterinário endocrinologista.