A cada dia cresce número de pessoas que criam ou mantêm araras, papagaios e maritacas, grupo de aves denominado de Psitacídeos. Com esse crescente aumento, sobe também a preocupação em se nutrir essas aves da melhor maneira possível. Afinal, uma alimentação adequada é o fator determinante para se ter maior longevidade, manutenção de uma vida saudável e consequente reprodução das aves.
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Hoje é consenso em todo o mundo que o emprego de alimentos balanceados é a maneira mais econômica, prática e nutritivamente correta de se alimentar um animal, seja de qual espécie ele for. No caso dos psitacídeos, as pessoas ainda costumam alimentá-los apenas com girassol, ou no máximo misturas de sementes e alguma porção de frutas.
Quanto às frutas, podemos dizer que possuem em média 80% de água. Vamos aqui tomar como exemplo um kilograma de laranja. O preço de seu kg na matéria natural é de aproximadamente R$ 1,50, entretanto ela possui apenas 200 g de alimento seco ao custo real de R$ 7,50/kg. Se considerarmos as perdas da casca e sementes, não consumidas pelas aves, esse preço seguramente pode dobrar.
No caso específico de criadores, quando ainda adicionamos todo o custo logístico relativo ao transporte desse alto peso, acondicionamento, refrigeração, mão-de-obra para preparo e limpeza de vasilhames e dejetos deixados pelas aves, os custos ficam praticamente proibitivos. Para completar, essa laranja, como todas as outras frutas, é rica em vitaminas, porém muito pobre em proteínas, com apenas 6% da matéria seca na parte comestível pelas aves.
É fundamental informar aqui que frutas e legumes são excelentes fontes de diversos nutrientes importantes. Portanto, devem sim ser oferecidas aos animais. Entretanto, devem entrar em proporção menor da dieta, não somente devido ao seu alto custo real, como também devido à necessidade de se realizar um balanceamento adequado dos nutrientes da dieta.
Quanto às sementes, na grande parte das vezes, apresentam deficiência de muitos nutrientes e excesso de outros. Uma mistura de sementes bem elaborada permite que haja um melhor balanceamento de todos os nutrientes. Isso porque a baixa quantidade de certo nutriente em um grão é corrigida pela quantidade excedente em outro. Pois bem, se as aves consumissem simultaneamente todas essas sementes, o problema estaria em parte resolvido, entretanto isso não ocorre.
O que sempre vemos são aves dominantes comerem todas as melhores sementes primeiro, deixando as piores para seu companheiro. Mesmo havendo apenas uma ave no viveiro, é comum a vermos comer apenas o que prefere deixando de lado o restante. Paralelamente, todas as sementes são deficientes em vitaminas, cálcio e demais minerais, exigindo gastos extras para suplementação.
Cabe aqui fazer um destaque em relação à semente de girassol. Infelizmente, muitos profissionais têm errado ao informar que não se deve fornecer qualquer quantidade para papagaios. Realmente, seu uso excessivo pode sim prejudicar seriamente a saúde do papagaio em longo prazo. Trata-se de uma semente com quantidades excessivas de gordura, proteína e energia, além de importantes deficiências em alguns micronutrientes (vitaminas, minerais e aminoácidos).
Assim, o consumo exagerado de girassol pode ocasionar graves problemas nutricionais, incluindo o óbito por problemas de excesso de gordura no fígado. Não podemos esquecer, entretanto que o girassol possui uma das proteínas vegetais de melhor qualidade e digestibilidade. Sua gordura é muito rica em ácidos graxos poliinsaturados, sendo, portanto de excelente qualidade. O uso controlado de girassol em uma dieta de papagaios e especialmente de araras, é não só adequado, mas até mesmo recomendável em alguns casos.
Com base em todos os problemas expostos provocados por dieta exclusivamente a base de sementes e vegetais, muitos especialistas em criação de psitacídeos em cativeiro têm recomendado alimentos balanceadas específicas para este grupo. Felizmente, a disponibilidade desse tipo de produto tem aumentado significativamente nos últimos anos.
Entretanto, é importante considerar que, como ocorre em todo segmento de produtos manufaturados, existem todo tipo de fabricante. Desde aqueles mais sérios, que realizam um adequado estudo sobre as exigências nutricionais das aves e mantém um adequado programa de asseguração de qualidade, até aqueles que simplesmente encaram o negócio de forma não tão profissional.
A fabricação de alimentos balanceados é um processo complicado que exige não somente um apurado conhecimento técnico das necessidades nutricionais do animal ao qual ela se destina como também um criterioso controle na qualidade na aquisição das matérias primas e processos de fabricação. Não é raro observarmos falhas em ambos os quesitos nos produtos presentes hoje no mercado para aves.
Os erros mais comuns encontrados são: diferenças significativas nos níveis de garantia entre o real e o declarado, alta contaminação por bactérias e fungos nocivos, e até mesmo declarações tecnicamente infundadas de níveis de garantia ou enriquecimento por kg de produto, ou seja, declaração de níveis muito altos ou muito baixos. Nesse último aspecto, é importante considerar que todo nutriente tem seu nível ótimo de inclusão para cada espécie. Tanto diferenças muito abaixo quanto acima desse nível ideal podem prejudicar os animais. Dependendo do nutriente, níveis muito acima podem mesmo causar o seu óbito. Felizmente, o Ministério da Agricultura, tem agido de forma cada vez mais eficiente para fiscalizar os fabricantes, minimizando por consequência esses erros.
A escolha da melhor ração para seu papagaio é uma decisão difícil, especialmente se considerarmos que ela geralmente é feita com pouco embasamento técnico. A corriqueira avaliação pela melhor palatabilidade, é temerária uma vez que existem maneiras tecnicamente incorretas de melhorá-la. O que aconselha-se é avaliar bem a estrutura do fabricante, e especialmente, procurar o conselho de um profissional da área.