Considerando sua densidade (muitas gaiolas por metro quadrado em lugar geralmente com menor circulação de ar), a criação de pássaros pode ser considerada uma produção intensiva. Assim, poderíamos mesmo compará-la com a produção em escala de frango – de alta produtividade – e outros animais confinados. Até por que, imputamos sobre esses pássaros uma alta produtividade de ovos fazendo com que as fêmeas produzam várias chocas por temporada.
Todo adensamento animal implica em multiplicação do risco sanitário. Quando associamos ainda uma alta produção, adicionamos então uma carga extra de estresse, aumentando ainda mais o desafio. Por este motivo, é fundamental tomar todas as precauções em biossegurança para tornar o ambiente o mais assíduo possível. Para tal, o criador deve não só cuidar da higiene do ambiente, mas também aperfeiçoar as qualidades nutricionais, físicas, microbiológicas e químicas de todos os alimentos fornecidos.
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Sabe-se que a maioria dos criadores cuida bem da parte higiênica. Mas será que a parte de controle de alimentos está sendo bem cuidada? É impossível para o criador fazer um rigoroso controle de qualidade em sementes e vegetais. Especificamente as sementes, por mais bem limpas que possam ser, possuirão sempre uma quantidade relevante de partículas alergênicas e ácaros, que afetam substancialmente a saúde das aves. Paralelamente, as cascas resultantes da alimentação dos pássaros acabam se acumulando em vários pontos do criatório, prejudicando ainda mais a qualidade do ambiente. Isto sem levar em consideração os já conhecidos problemas advindos das micotoxinas e agrotóxicos, frequentemente presentes nas sementes.
Um dado que chama atenção quando avaliamos o desempenho médio do criador de pássaros que utiliza o sistema tradicional de alimentação é o seu considerável índice de mortalidade, especialmente a de filhotes. Para minimizar isso, a maioria faz uso intenso de antibióticos. Quando consideramos os fatos acima, fica fácil explicar tamanha mortalidade em uma fase de baixa resistência imunológica e, portanto, mais suscetível a interferências físicas e microbiológicas. È interessante notar que boa parte desses óbitos tem como causa bactérias oportunistas tais como Escherichia coli ou Staphyilococcus aureus. Dizemos oportunistas aqueles microrganismos que só conseguem agir quando já há alguma deficiência imunológica do animal. Fatalmente, deficiências nutricionais, contaminações diversas do alimento e excesso de partículas alergênicas e ácaros impõem um desafio e tanto para as aves.
Existe uma grande população de microorganismos que habitam a luz do nosso organismo e que, na verdade, nos beneficiam em muito, inclusive nos protegendo contra os patógenos. Os antibióticos irão afetar todos os microorganismos, ou seja, estarão matando a microbiota residente e, assim, criando espaço para a entrada de algum oportunista resistente. Cabe lembrar ainda que, se removermos a microbiota bacteriana existente com o uso constante de antibióticos, estaremos também abrindo as portas para a instalação de infecções de caráter não bacteriano tais como candidíases, aspergiloses e protozoários.
A tecnologia moderna de nutrição balanceada faz hoje uso constante de nutracêuticos que trabalham no sentido de estimular o crescimento de microrganismos benéficos em detrimento da população potencialmente patogênica. Paralelamente, outros nutracêuticos contribuem significativamente para estimular a atividade imunológica tanto intestinal quanto sistêmica.
A mudança de uma dieta fundamentada em alimentos balanceados, tanto extrusados, quanto farinhados vindos de empresas idôneas e tecnicamente qualificadas, sem dúvida é a peça chave para quebrar de vez o ciclo de dependência de antibióticos e outros medicamentos. Tais alimentos não só garantem a qualidade da dieta, mas também permitem uma real higienização do ambiente, ficando este livre de cascas de sementes e seus produtos alergênicos.
Não é necessária a mudança total de sementes para rações, mas apenas uma drástica redução do consumo delas, que passariam a ser complementos alimentares e não base alimentar. Afinal, quem não conhece amigos que começam a espirrar quando entram em um criatório, ou mesmo quando balançamos um pote de semente perto de seu rosto?