De fato, as aves granívoras possuem um bico especializado para a apreensão processamento e ingestão das sementes. Entretanto, esse argumento despreza o fato de que a evolução dessas atividades ocorreu para conquistar um novo nicho (a disponibilidade de sementes) e isto não significa que a não utilização desta ferramenta, o bico especializado, possa causar problemas para as aves. Se usarmos esse raciocínio, teríamos que produzir alimentos diferenciados para todos os outros animais. Os cavalos possuem lábios e dentes especializados na apreensão de gramíneas bem próximas das raízes, muitos ruminantes possuem línguas especializadas na apreensão de folhas capins e finalmente os cães e gatos possuem mandíbulas e dentes especializados na mastigação e corte da carne.
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Um fenômeno evolutivo chamado coevolução faz com que as sementes (que não “querem” ser predadas) também desenvolvam estruturas físicas e químicas que dificultem sua utilização pelos animais. E estes têm que se especializar cada vez mais para predá-las e sobreviverem. Não é fácil para a ave ter que gastar sua preciosa energia para descascar as sementes, processar uma enorme quantidade de fibras, que reduzem drasticamente a sua digestibilidade, e principalmente lidar com eficientes produtos tóxicos, chamados de fatores anti-nutricionais, tais como o tanino, saponinas, arabinoxilanas, anti-tripicinas, muitas vezes presentes nas sementes em abundância.
Os defensores do emprego de sementes para pássaros esquecem que no mínimo 90% das rações são compostas de SEMENTES, porém processadas de tal maneira que eliminamos as partes nocivas (químicas e físicas) e valorizamos as partes boas. Como exemplo, podemos citar a proteína da soja sem a saponina e antitripicina, o germe do trigo sem as arabinoxilanas, o sorgo sem o seu tanino, e assim por diante. Ao mesmo tempo, podemos tornar os produtos industrializados mais eficientes por serem homogêneos e poderem ser adicionados com todas as vitaminas, minerais, aminoácidos essenciais e os mais modernos aditivos zootécnicos. Não podemos esquecer que as rações já são devidamente moídas economizando para a ave um enorme esforço energético com a moagem das sementes. Um exemplo claro das vantagens das rações extrusadas frente às sementes reside no fato de que o consumo médio das primeiras é menos da metade das segundas, o que demonstra um ganho econômico substancial para o bolso do criador.
Outro ponto a ser considerado refere-se ao fato das aves em cativeiro estarem em um ambiente totalmente diferente do seu meio natural. Aliás, meio este que não disponibiliza sementes durante todo o ano. No inverno as aves granívoras têm que se alimentar de outros produtos diferentes de sementes. No ambiente natural, os pássaros gastam muito mais energia levando assim a um consumo diário de alimentos bem maior. Fazendo um comparativo singelo, apenas para arredondar números, um pássaro solto que consome 10 g de semente por dia, poderia consumir apenas 5 g em cativeiro. Dez gramas de semente levaria ao consumo de X mg de vitamina B, que seria suficiente para a manutenção da saúde do pássaro. Porém em cativeiro, esse consumo diário seria de X/2 e não seria suficiente para a manutenção da saúde. Assim, devemos considerar que em cativeiro temos que fornecer alimentos com maior concentração nutricional. Fato jamais conseguido com o consumo de sementes. Muitos criadores procuram suplantar essa deficiência com a suplementação de certos nutrientes à dieta. Entretanto, geralmente ocorrem graves erros de excesso ou ausência dos diversos micronutrientes necessários a manutenção de uma perfeita saúde e produtividade dos pássaros no cativeiro.
É importante deixar claro que o que defendemos não é a substituição total das sementes por alimentos balanceados, mas sim o emprego de no mínimo 70% das últimas. Com isso, estaríamos minimizando os riscos das sementes sem, no entanto, cortar um importante vínculo com as origens das aves.